O mito do São Gotardo
O mito do São GotardoUma viagem por cima túnel mais longo do mundo
Erstfeld - Wassen
De Erstfeld a Wassen
Conquistando o São Gotardo
360°Igreja de Wassen
Uma caminhada de três horas nos leva a Wassen. O primeiro gesto a ser feito é tocar com a mão a igreja branca. Ela desponta sobre a colina, no meio do vale. E mais parece uma miragem, com uma onipresença capaz de irritar um pouco. Wassen é conhecida pela proeza de engenharia da linha ferroviária.Tudo por causa dos três túneis helicoidais que ajudam a superar, em poucos quilômetros um desnível de quase 100 metros. Quem está no trem acaba tendo a impressão de viajar em círculos. Por alguns minutos, a igreja é o ponto de referência, na direita, na esquerda, embaixo e no alto.
Wassen - Andermatt
De Wassen a Andermatt
360°Ponte do Diabo
As duras condições de trabalho dentro dos túneis se repetiam fora deles. Os operários viviam amassados em locais insalúbres, sem água ou serviços higiênicos. O único incentivo era o salário, pouco mais elevado do que outros em vigor, em ambientes semelhantes. Um mineiro ganhava pouco mais de 100 francos por mês, dos quais eram deduzidos, além das despesas correntes, o aluguel da lâmpada a óleo (5 francos) e o aluguel de um leito (de 10 a 15 francos).
Em Göschenen temos que subir no trenzinho para Andermatt. A trilha foi interrompida por causa de um desmoronamento. O vale se fecha até virar um corredor apertado e escuro. Ao chegar a Andermatt, 300 metros mais em cima, em Val d’Orsera, retorna-se aos próprios passos. E admira-se melhor este estreito. Estamos na garganta de Schöllenen, ponto nevrálgico – e intransponível, por séculos – da estrada do São Gotardo. Apenas entre os séculos XII e começo do XVIII, com a primeira passarela suspensa sobre a garganta, e depois com a ponte do Diabo, é que foi possível conquistar esta barreira natural.
Realmente, aqui iniciou a história do São Gotardo. Graças à ajuda do diabo que, como reza a lenda, a construiu em troca da alma de quem primeiro realizasse a travessia…no caso, foi uma cabra azarada, empurrada ali pelos astutos “uranos”.
Na margem direita desta garganta, um monumento imponente, com dizeres em cirílico, nos chama a atenção. Ele nos recorda que aqui, em 1799, travou-se a batalha do exército do general russo Suvorov e as tropas napoleônicas. Suvorov e seus 21 mil soldados atravessaram os estreitos do São Gotardo, de Lucomagno e do Oberalp, numa aventura comparada por alguns como aquela de Aníbal e, por isso, entrou na legenda militar russa.
Mesmo este sendo o único episódio bélico ocorrido na região, o São Gotardo transpira de história militar. Basta lançar um olhar atento às paredes das rochas para dar-nos conta de que a zona é escavada como uma queijo suíço, bocas de fogo por todos os lados. Porém, estamos antecipando os tempos. Ainda é cedo para falar deste aspecto, de um passado recente. No topo do estreito, teremos ocasião para tocar com as mãos esta parte da história. Por enquanto, as escavadeiras e os guindastes que colonizam Andermatt nos transportam para o presente imediato.
Andermatt - São Gotardo
Andermatt - Desfiladeiro do São Gotardo
360°Sul do desfiladeiro do São Gotardo
Entramos no austéro e magnífico hospício (cuja existência era já conhecida desde 1237), reformado de recente. Os quartos celebram os ilustres visitantes que passaram por aqui: Goethe, Honoré de Balzac, Victor Hugo, Rossini, Petrarca…o nosso é dedicado a Michail Bakunin. Adormecemos embalados pela história.
São Gotardo - Airolo
Desfiladeiro de São Gotardo – Airolo
360°Tremola
Chegamos em Tremola, sem nenhuma dúvida, a estrada mais simbólica do São Gotardo, uma verdadeira obra de arte dos tempos modernos, preservada igual a como foi finalizada, em 1951. Ela é composta de 24 curvas que ganham um desnível de 340 metros sobre uma distância, em linha reta, de um quilômetro. Muitos ciclistas corajosos desafiam as paredes de granito, enquanto os motoristas a bordo de carros de época perseguem, talvez, o reencontro com sensações antigas, quando a viagem de automóvel era uma aventura especial.
O vale volta a se abrir ao deixarmos os zigues e zagues para trás. Cerca de 500 metros mais abaixo, podemos ver perfeitamente o Airolo e parte da Leventina. Nas imediações do quartel de Motto Bartola, nos aguarda Edoardo Reinhart. Este guia da associação Amigos do Forte Airolo nos acompanha até um velho e normal casario, pelo menos assim parece a uma primeira vista. Mas por que a porta é blindada?
Descobrindo o forte de Foppa Grande
Airolo - Pollegio
Airolo – Pollegio
360°Giornico
A temperatura sobe rapidamente à medida que descemos a garganta de Biaschina, tomada pela gigantesca estrutura da rodovia. Agora, já voltamos para a planíce. O objetivo se aproxima. Paramos, pela última vez, em Giornico, pequena pérola medieval, com as suas sete igrejas e seus viadutos românicos.
A nossa viagem está perto do fim. Mais algumas pedaladas e chegamos a uma tuneladora - máquina colossal, conhecida como tatuzão e usada para a escavação de um novo túnel - pousada sobre margem da estrada. O seu trabalho terminou. Agora, ela se tornou um monumento da modernidade.
O portal Sul encontra-se a poucas dezenas de metros. Dentro de alguns meses, dali irão aparecer os trens. O maciço de história e de mitos poderá ser atravessado num piscar de olhos. E com a velocidade, talvez, a legenda do São Gotardo vai desaparecer, lentamente. Ou, quem sabe, mais um pedacinho de memória vai se incorporar a este mosaico mitológico e alimentar a reza desta lenda.