Escapando da gaiola dourada
Perfis de suíços do estrangeiroEscapando da gaiola dourada
Niklaus Mueller
EmpreendorismoA paixão chinesa de NiklausSusan Misicka
Niklaus Mueller O estudante em Xangai
Niklaus Mueller O estudante em Xangai
Para Niklaus Mueller, 32 anos, a China é o país para se estar no momento. É a sua terceira estadia em cinco anos. Como muitos suíços de sua geração, ele quer explorar o mundo e aproveitar das experiências.
"Muitos dos meus amigos queriam ir aos países do Ocidente. Mas eu queria ir ao Oriente. Eu tenho um fascínio pela China. Mesmo depois de passar dois anos, eu queria compreender melhor o país e seu papel na economia mundial", conta o jovem.
Bem vestido, carregando anotações para a entrevista, Niklaus Mueller explica que se apaixonou pela China durante um estágio em um escritório internacional de advocacia, o CMS, em 2011. Ele teve de retornar à Zurique em 2012 para concluir seus estudos de direito. Mas a China não o deixou.
"Estava convencido que iria encontrar uma forma de retornar à China", lembra-se Niklaus Mueller. De volta à Xangai, o escritório de advocacia lhe ofereceu um emprego como advogado associado em período integral. Ele trabalhou na empresa dois anos e depois retornou à Zurique, onde foi contratado pelo banco Credit Suisse. Mas após um ano, o desejo de voltar era maior. Ele se inscreveu em um programa de MBA na China Europe International Business School (CEIBS) em 2015.
"Eu tenho um grande interesse pelo espírito empreendedor e inovador dos chineses e a evolução atual vivida pelo país. Acho que é um dos lugares mais excitantes para se viver hoje em dia", explica Niklaus Mueller, originário de Berna.
Essa paixão pela China engloba a sua cultura, história e o mandarim, idioma que estuda com afinco. Sua próxima etapa é dominar 2.500 ideogramas.
Galeria de fotosEstudante de MBA em Xangai
(Fotos: Daniele Mattioli)
As irmãs Blaettler
As irmãs SwahiliO elefante na salaAnand Chandrasekhar
As irmãs Blaettler As artistas na África
As irmãs Blaettler As artistas na África
"Eu não poderia viver mais lá. Me sentia muito sob controle", diz Daniela Blaettler, 52 anos, natural de Lugano, na região sul da Suíça, e que agora vive na ilha queniana de Lamu, no norte do país.
Seu pai era de Airolo, no cantão do Ticino e sua mãe de Pontresina, no cantão dos Grisões. Quando tinha 19 anos, Daniela Blaettler deixou sua família, na parte de língua italiana da Suíça, para ir morar na França, em St. Tropez. Apesar de vir de uma família bem unida, de três irmãs e um irmão, o desejo de escapar de seu país de origem era muito forte.
"A Suíça é muito bonita, mas eu precisava de algo mais do que apenas a beleza", conta. "Eu estava procurando desafios, já que a vida lá era muito fácil para uma pessoa jovem."
Mas mesmo a glamorosa St. Tropez não podia satisfazer Daniela. Depois de sete anos na Riviera Francesa, trabalhando na loja de um amigo e vendendo casas, ela voltou a sentir aquela “coceira nos pés” de antes. Uma ida ao cabeleireiro acabou tornando-se uma mudança de vida. Enquanto folheava a revista de viagens Paris Match Voyage, seus olhos foram atraídos por uma foto de pessoas andando em elefantes africanos.
"Eu sempre sonhei em ter um elefante no meu jardim, em vez de um cachorro", conta para swissinfo.ch. "Quando vi a foto, meu sonho reacendeu. Eu estava cansada de St. Tropez e pronta para uma mudança."
Um só coração
Vários anos mais tarde, a irmã de Daniela, Marina Oliver Blaettler, também começou a pensar em sair da Suíça. No entanto, ao contrário de sua irmã Daniela, sua vontade não era buscar novos horizontes. Ela tinha 34 anos na época, trabalhava para uma empresa de software e levava uma vida confortável.
"Eu acordei uma manhã e decidi que não queria ficar fazendo aquilo o resto da minha vida", conta Marina, hoje com 56 anos. "Me senti presa e a Suíça era pequena demais para mim."
Marina queria viajar o mundo. Seu plano era parar primeiro na África para ver Daniela e depois continuar.
"Somos muito parecidas, eu e minha irmã", diz Daniela. "Temos o mesmo coração."
No início, a decisão das irmãs de trocar a Europa pela África caiu como uma bomba na família, que, entretanto, acabou aceitando.
"Meus pais nunca me deram dinheiro, mas eles me disseram que eu teria sempre o amor deles e um quarto em nossa casa, se um dia resolvesse voltar. Isso me deu coragem para sair", diz Daniela.
Uma vida na costa do Quênia
(Fotos: Georgina Goodwin)
Realidade africana
Realidade africana
"Assim que pus os pés em solo africano, o perfume da terra ou alguma coisa me disse que queria ficar aqui por mais tempo", diz.
Enquanto Daniela estava ocupada trabalhando com elefantes, Marina conseguiu um emprego na administração da reserva. Foi uma oportunidade que ela sentiu que não podia recusar.
"Voltei para a Suíça, vendi minha casa, carro e tudo que tinha e vim de vez para o Botswana", conta.
O trabalho na reserva manteve as duas irmãs ocupadas, mas sua permanência conjunta no país não duraria para sempre.
Em uma viagem de reconhecimento ao Cairo para planejar o transporte de dois elefantes por estrada, Marina ficou impressionada com a extrema pobreza que encontrou no caminho.
"Ver tantas pessoas à beira da estrada me fez sentir que não poderia justificar o tanto de dinheiro que era recoltado para os elefantes quando havia outras prioridades para o continente", diz.
Daniela também teve seu momento de desilusão alguns anos mais tarde, quando um elefante foi posto em cativeiro.
"Eu falei para eles que só voltaria quando eles soltassem meu elefante. Dois anos depois, voltei para vê-lo sendo solto na natureza. Segui-o durante três meses para ter certeza de que estava bem e depois voltei para o Quênia, onde comecei minha nova vida", conta.
Recomeço
Daniela se apaixonou por um biólogo marinho inglês que ela conheceu em Nairobi, mas o romance não deu certo.
Para esquecer a história, ela aceita um contrato para fotografar pescadores na ilha queniana de Lamu. Ela se encantou com o lugar e a comunidade de pescadores.
"Lamu é o lugar mais bonito na terra. Não há carros, discotecas, casinos. É ainda intocado", diz. "Aqui estou sempre no amor."
Mas para os pescadores locais a vida não era um mar de rosas. A concorrência dos arrastões de pesca e mares perigosos durante a estação chuvosa tornava difícil ganhar a vida. Um deles, Ali Lamu, pediu trabalho para Daniela. Ela pensou em como poderia ajudar e acabou tendo uma ideia criativa.
"Fiquei intrigada com o material utilizado para as velas dos barcos", conta Daniela. "Desenhei um grande coração em uma delas e acrescentei a frase ‘Love Again Whatever Forever' e emoldurei-a."
Ela, então, pediu a um amigo para exibi-la em sua loja. Quase uma hora mais tarde foi vendida por € 180 (CHF193). Com a ajuda dos pescadores, Daniela fez várias outras, e logo teve sucesso suficiente para começar um negócio de obras de arte e bolsas feitas com velas de barcos de pesca recicladas.
Galeria de fotosEncontrar satisfação entre os Masai da Tanzânia
(Fotos: Georgina Goodwin)
Arte da Tanzânia
Arte da Tanzânia
"O que eu gosto nesse país é a diversidade, com suas montanhas, savanas, florestas. Botswana era bonito, mas totalmente plano", conta.
Ela se casou com Paul Oliver, organizador de safaris perto de Arusha, no norte do país. No entanto, o trabalho não a realizava e uma outra oportunidade acabou surgindo, uma oferta emocionante de uma amiga que dirigia uma ONG em Milão.
"Ela perguntou se eu estava interessada em trabalhar em um projeto de gerar renda para as mulheres Masai, comercializando suas joias beadwork. Aceitei o trabalho com a condição de que o projeto se tornasse autossustentável."
Dois anos depois, o projeto se tornou uma empresa independente chamada Tanzania Maasai Women Art, com 200 mulheres Masai trabalhando nele.
"Cerca de 99% das mulheres são analfabetas e vivem na pobreza", diz Marina. "Eu não posso fazer mudanças radicais em suas vidas, mas, pelo menos, o dinheiro do trabalho delas melhora a confiança e autoestima delas", diz Marina.
Regras demais
As irmãs não pensam mais na Suíça, embora visitem a terra natal uma vez por ano. "Quando estou na Suíça, me sinto como se estivesse em uma colônia de férias. Tudo é tão limpo e organizado", diz Daniela.
Ela passa suas férias comendo comida suíça, caminhando nas montanhas e fazendo compras em uma das duas maiores redes de supermercados do país, a Migros. "Sinto-me mais suaíli que suíça", diz Daniela. "Gosto quando as pessoas chegam na hora, mas se não chegarem, também não é um problema."
Daniela se integrou na comunidade local de Lamu e adotou quatro crianças que variam de três a 18 anos de idade. Ela até recebeu um nome local e se chama agora Khalila. "Lamu é muito bonita e tranquila. É muito boa para a saúde, o coração e a alma", diz. "Eu acordo, caminho até a praia para ver o nascer do sol, mas também posso tomar um trem e ir para um lugar movimentado".
Apesar de sentir falta dos chocolates suíços, Daniela diz que não pode mais morar na Suíça, porque se sente muito sob controle lá. "Há tantas placas dizendo o que se deve fazer ou não", diz. "Em Lamu, somos muito livres, apesar de todos os perigos que nos rodeiam."
Espaços abertos
A vida de sua irmã Marina também está muito longe do ritmo da Suíça. Ela vive em uma tenda de estilo mongol na fazenda de um amigo - com um cavalo, dois cachorros e um burro.
"A Suíça é claustrofóbica. Eu gosto dos espaços abertos daqui: as montanhas, florestas e savanas", diz.
O cotidiano de Marina raramente segue uma agenda estabelecida, já que seu trabalho - e a vida na Tanzânia em geral – geralmente traz surpresas inesperadas.
"Eu começo meu dia com um passeio a cavalo e depois vou para a loja em Arusha. Volto para casa à tarde e faço uma longa caminhada com meu cachorro, vejo o pôr do sol, e às vezes saio para beber ou jantar com meus amigos", conta.
Ela também está separada do marido, e fora alguns amigos, vive bem sozinha. No entanto, ela não acha que poderia voltar mais para a Suíça.
"A Suíça é uma pequena ilha e isso se reflete na forma como as pessoas pensam. Ela para nas fronteiras", diz.
Silvia Brugger
Dogged determinationA carta de uma suíça que emigrou para o AlascaPhilipp Meier
Silvia Brugger A aventureira no Alasca
Silvia Brugger A aventureira no Alasca
Caro Philipp,
Aqui está meu breve relato. É a primeira vez que escrevo algo parecido e não estou segura por onde começar.
Assim Silvia Brugger começou a sua história de emigração. O contato com ela ocorreu, como é comum atualmente, via internet: e nesse caso, Facebook.
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É uma grande sorte a Silvia ter respondido à mensagem enviada por mim através do Facebook. Uma antiga colega de escola em Lucerna me contou sobre ela. E sem hesitar ela produziu o que hoje chamamos de "user generated content", ou seja, conteúdo gerado pelos leitores. A história foi escrita por ela e eu apenas me limitei a pedir alguns detalhes adicionais.
Eu nasci em 1974 e cresci em Cham, no cantão de Zug.
Tenho quatro irmãos: Max é o meu irmão gêmeo e os outros três são, respectivamente, quatro e oito anos mais velhos (minhas irmãs são também gêmeas).
Já como criança e adolescente viajei muito através da Europa. Meus avós viviam no norte da Alemanha e nossa família tinha alguns cavalos, com os quais eu e a minha irmã participávamos de competições no exterior todos os anos.
Ao terminar a escola tirei a minha carteira de condução. Depois queria me candidatar para um emprego na companhia aérea Swissair. Porém decidi fazer uma grande viagem antes de começar a trabalhar. Então fiz um curso de inglês em Perth e depois viajei com uma amiga através da Austrália. Tínhamos apenas
18 anos de idade.
Foi quando chegou a hora de me preocupar com o futuro profissional. Eu fiz uma formação profissional comercial no Hotel Carlton Elite em Zurique e depois arrumei um emprego sazonal no Hotel Badrutt’s Palace, em St.Moritz.
O que você aprendeu no hotel em St. Moritz?
Deixe me pensar...Está tudo meio embaçado...Talvez pelo fato de ter saído muito à noite e consumido muita cerveja :-)
Eu diria ter aprendido na Suíça o que me falta um pouco aqui nos Estados Unidos: disciplina pessoal e responsabilidade. São duas coisas fundamentais para ter sucesso na vida profissional.
Um exemplo: o negócio de processar na Justiça me enlouquece aqui nesse país. Alguém compra no McDonald‘s um café, queima a língua e depois processa a empresa, recebendo então uma indenização de um milhão de dólares? Eu não compreendo isso. Essas situações se tornaram hoje comuns. Senso comum não é mais necessário.
Durante uma viagem ao Canadá (1997) conheci a família Willis, de Anchorage. Eles tinham cavalos islandeses e também cães de trenós. Bernie e Jeannette Willis me convidaram espontaneamente para passar umas semanas no Alasca. Foi a minha primeira estadia por lá.
Depois de passar a última temporada no Palace Hotel, emigrei em 1999 para o Alasca e, no mesmo ano, casei com o Andy (o filho mais velho de Bernie e Jeannette).
Em 2001, eu e o Andy abrimos uma pensão. Nós compramos o terreno e o prédio em um leilão e, durante um ano, limpamos, organizamos, consertamos e renovamos o local.
Eu nunca teria imaginado que iria concretizar o meu sonho de infância de ter uma pensão de pesca e caça. Minha vida era cheia de aventuras: tínhamos a nossa própria pensão; a gente pescava o verão inteiro e no outono, caçávamos; já no inverno era hora de treinar os cachorros com os trenós.
Andy e sua família eram bastante engajados na famosa corrida de trenós com cachorros de Iditarod. Todos os homens participaram dessa competição por vários anos. Em 2007 e 2008, nós dispúnhamos uma boa matilha e assim, era a minha vez de participar da corrida de mil milhas. Fui a primeira mulher suíça a participar de uma Iditarod.
Galeria de fotosBrugger
(Fotos: Trent Grasse)
O que você mais gostava nos cachorros e nas corridas de trenós?
O que você mais gostava nos cachorros e nas corridas de trenós?
Os cachorros de trenós não são comparáveis aos cachorros caseiros. Eles são animais de trabalho, criados há gerações para o transporte de carga.
Era naturalmente muito bonito passear com eles por trinta ou quarenta milhas :)
Eu gosto muito de fazer esportes e adoro desafios. Por isso não queria ter os cachorros de trenós somente para o prazer e, assim, não demorou muito até que começasse a participar de corridas curtas (200 ou 300 milhas). Assim montei uma matilha com aproximadamente vinte cachorros, com os quais pude participar posteriormente da Iditarod. Os preparativos duraram sete anos. Eu mesmo criei os cachorros e os treinei juntamente com meu marido.
Um passeio com os cachorros de trenós dá um sentimento bem diferente! É algo aventureiro e, por vezes, até perigoso. Muita coisa pode dar errado. Você pode até mesmo se perder na natureza. Alces agressivos podem atacar os cachorros, ferí-los e até matá-los. E naturalmente temos o frio: temperaturas de menos trinta ou quarenta graus não são raras. De novembro até janeiro os dias são bastante curtos (10 da manhã às três da tarde). Isso torna o treinamento mais difícil se você precisa treinar de oito da manhã até às seis da tarde.
Mas o trabalho duro vale a pena! No inverno mais tardio (fevereiro e março), os dias começam a se tornar mais longos e, em um ano normal, as condições da neve se tornam ideais e as temperaturas mais agradáveis (em torno de 10 a 20 graus negativos). Nessas condições não consigo imaginar nada melhor do que fazer uma corrida com um trenó puxado por doze cães bem treinados. Tirando a respiração dos cachorros, é um silencio absoluto! Eu fico até arrepiada. E quando você ao ar livre na noite, dá para ver muitas vezes a aurora boreal.
E naturalmente o desafio pessoal de participar de uma corrida, especialmente a legendária Iditarod! Mil milhas é bastante coisa. Segundo o tempo e as condições do percurso, o vencedor precisa de nove dias para cobri-lo. Uma corrida concluída é a maior vitória para compensar o esforço.
Eu precisei de dez dias para percorrer essas dez milhas. Os dados mais exatos podem ser vistos no site "iditarod.com" (você me encontra nos arquivos procurando pelo meu nome, Silvia Willis, entre 2007 e 2008)
Em 2007 tive o meu "Rookie Year“" ("Rookie" é a pessoa que participa pela primeira vez da corrida). Cada dia era uma aventura e como "rookie" você não sabe o que te espera. O tempo é sempre uma surpresa. Porém era um dos anos mais frios já vistos. Muitos dos participantes (tanto cachorros como pessoas) lutavam contra as queimaduras do frio. Na chegada o meu rosto estava todo inchado. Também tive uma infecção feia na mão esquerda e fui operada de urgência em um dos pontos de controle. Um enfermeiro (não era médico!), voluntário na corrida, tinha um estojo de primeiros-socorros consigo.
No longo prazo esse estilo de vida era muito estressante para o nosso casamento e eu o Andy nos separamos. Eu saí do mato e fui viver na cidade. Hoje levo uma vida mais "civilizada".
As corridas de cães me dão um grande prazer. Eu sinto muita falta delas, mas os cachorros exigiam muito cuidado. A gente não podia fazer férias, pois eles precisavam ser alimentados. Ao mesmo tempo a gente tinha que treinar no verão (no calor), que era a época de maior movimento na nossa pensão.
Hoje trabalho na empresa de distribuição de cerveja K&L Distributors como chefe de vendas. Eu tenho seis funcionários sobre a minha responsabilidade.
Como é o seu trabalho?
A K&L Distributors Inc. é uma representação de fabricantes de bebidas alcóolicas no Alasca. Eu sou responsável pela venda de cervejas em oitenta mercados de bebidas em Anchorage, Wasilla e Palmer.
Isso é provavelmente mais informação do que você necessita, mas espero que dê uma ideia da história da minha vida.
O que você sente falta da Suíça?
Eu sinto falta de muita coisa. Em comparação com o transporte público no Alasca, o da Suíça é incomparavelmente muito melhor. O Alasca é tão grande que não daria para financiá-lo. Sinto muita falta também das trilhas. O Alasca tem muitas natureza e montanhas, mas elas são muito distantes e por vezes até perigosas (animais selvagens). Eu sou mimada, especialmente ao pensar no chocolate suíço. Por isso sempre volto com as malas cheia das viagens à Suíça.
Regularmente comparo o Alasca à Suíça e me pergunto onde gostaria de passar o resto da minha vida. Devo retornar ao meu país e estar mais próxima da família? Onde tenho as melhores condições econômicas e o melhor sistema de saúde? São essas e outras perguntas...
O caminho para a resposta "correta" é longo. Os dois países (EUA e Suíça) tem aspectos positivos e negativos. Não é fácil compará-los.
No EUA é mais fácil garantir a minha liberdade pessoal e concretizar os meus sonhos. Quando escrevo "EUA", penso no Alasca. Nunca poderia imaginar viver um dia em metrópoles como Nova Iorque, Los Angeles ou Chicago. O Alasca é comparável à Suíça. Adoro especialmente as montanhas.
Eu tenho a impressão que a vida na Suíça é muito regulada. Tudo é determinado pelo governo. A Suíça é relativamente pequena e densamente povoada. Quando estou por lá, chego a ter um pouco de claustrofobia.
Você mantém contato com os amigos e parentes na Suíça?
O contato é praticamente através do Facebook. Mas curto bastante. É muito bom saber através desse canal o que os meus antigos amigos da escola estão fazendo. Sem o Facebook não teria nenhuma ideia. E graças ao "Hangout", estou sempre em contato com meus irmãos e o meu pai. A cada dois meses nos encontramos no domingo para uma conversa online.
Eu vivo há 17 anos nos Estados Unidos. Embora o país não seja perfeito, posso aqui concretizar meus sonhos com mais facilidade. Eu não sei exatamente como me expressar da melhor maneira. Me faltam as palavras.
Na Suíça a minha vida era planejada: ir à escola, aprender uma profissão, encontrar um trabalho e trabalhar a vida inteira e economizar até a aposentadoria.
Também me preocupo mais com a situação política e econômica na Europa do que nos Estados Unidos. O mundo encontra-se em transição. Somos todos atingidos, não importa onde vivemos. No Alasca somos dependentes dos recursos naturais e atualmente lutamos com um déficit público bilionário. Isso nos preocupa bastante, pois o futuro é incerto. Ao mesmo tempo preocupo-me com a situação na Europa. Por isso acho bom saber que a Suíça nunca aderiu à União Europeia. Assim ela está mais protegida da sua influência econômica negativa. Em todo caso, a Suíça encontra-se na Europa, cercada por países da União Europeia e, portanto, sob a sua influência.
Eu não saí da Suíça por estar insatisfeita. Eu tive a oportunidade de expandir meus horizontes e aproveitei disso. Tenho orgulho das minhas origens. Amo a minha pátria e viajo para lá com grande prazer. Mas no final da minha estadia na Suíça, fico também muito feliz de poder voltar para a "casa" no Alasca.
The Hostettlers
Christine e Hans HostettlerDos Alpes suíços à selva paraguaiaMarcela Aguila
A família Hostettler Um paraíso no Paraguai
A família Hostettler Um paraíso no Paraguai
"Se queremos voltar para Suíça? Não!", responde Christine sem vacilar. "Aqui tivemos liberdade e possibilidade de criar o que na Suíça sequer poderíamos imaginar". Uma oportunidade que eles valorizam.
Fundaram uma entidade de proteção da natureza, um programa de ecoturismo e uma granja biológica que denominaram "Nueva Gambach" - em alusão ao povoado natal – onde nos recebem e dividem conosco o pão, o sal e a lembrança de 36 anos como cidadãos da Quinta Suíça (n.r.: a denominação da comunidade de suíços que vivem no exterior).
Falam de nostalgia de familiares e amigos como da cultura helvética, sua organização e formalidade. "Mas aqui é nosso lugar", acrescentam. Um lugar que Hans construiu com as próprias mãos em Alto Verá, Itapúa, hoje adjacente à Reserva Parque Nacional São Rafael
Um compromisso perigoso
É uma vizinhança significativa. A história dos Hostettler coincide com a defesa do último reduto no Paraguai da Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ricos do planeta, mas também um dos mais ameaçados.
Se falamos de riscos, Christine recorda aquele domingo de 2008. "Tinha futebol, eu estava sozinha em casa e escutei barulhos lá fora. Saí e dei de frente com alguém que me apontou um revólver 38". A sorte de Christine e a má pontaria do invasor fizeram com que a bala passasse longe. Hans também saiu ileso quando dispararam contra seu aeroplano quando sobrevoava a mata para detectar desmatamento, incêndios ou outros atos ilícitos.
"Pensavam que nos matando a luta acabava. Agora sabem que somos muitos”, acrescenta triunfante nossa anfitriã.
Tudo começou em Berna
Então voltemos ao ponto de partida, no final dos anos 1970, nos Alpes de Berna, A vida da família Hostettler transcorre calmamente em Gambach, comuna de Rüschegg. Demasiado calma. "Podemos tentar", pensou o casal ao saber da proposta de comprar parcelas do outro lado do Atlântico.
Com apoio da família compraram 250 hectares nesse Novo Mundo que, para eles, era um mundo novo, mas para eles tornou-se bem mais arcaico. "Como se estivéssemos 50 nos atrás", explica Christina ao evocar o paraíso inóspito em que chegaram, onde não havia a menor infraestrutura. Na Suíça ficaram o frio e a monotonia, porém também o conforto e a segurança.
Christine chegou com Brigitte, a filha maior do casal, no colo, em fevereiro de 1979. Hans tinha ido seis meses antes para preparar o terreno e isso não era uma mera expressão: o antigo marinheiro desmatou uma área e construiu uma casa de madeira para a família.
Dono de uma destreza admirável, com o correr dos anos Hans deu solidez à morada e a dotou de eletricidade através da construção de uma represa que permitiu a formação de um lago convertido em biótopo. Graças a sua habilidade a fazenda se manteve e foi possível montar um ultraleve que recebeu em peças chegadas em um pacote.
Galeria de fotosA família Hostettler e seu paraíso em plena selva guarani
(Fotos: Rodrigo Muñoz)
Procurando apoio
Procurando apoio
Mas a fazenda já dava seus frutos, ou melhor, frutos lácteos. Christine tinha aprendido a fazer queijos (no Paraguai, não na Suíça), Brigitte já tinha dois irmãos: Tereza e Pedro. Os cultivos de soja biológica se consolidavam e os Hostettler encontraram tempo para a defesa do meio ambiente.
Em 2005 chegou Lucy, o ultraleve, adquirido com ajuda do Fundo Mundial para a Natureza, uma parte dos apoio externo conquistado pela Associação Pro-Cordilheira São Rafael (Pró Cosara). Fundada em 1977, com impulso do casal, a organização cuida da "zona de reserva", decretada em 1922, e tenta adquirir as terras de seus proprietários privados que o governo não indenizou.
A dívida impede que a reserva se converta em “parque ecológico” e sobre essa área de 73.000 hectares existem cultivos extensivos, principalmente de soja e espécies ilícitas.
Uma nova trincheira
Christine e família trabalharam muito para reforçar esse organismo. Hoje ele conta com uma importante rede internacional de apoios e contatos e implementa programas de pesquisa para o inventário da reserva e de capacitação e educação ambiental para conscientizar e desenvolver atividades sustentáveis.
Com a consolidação de Pro Cosara, Christine deixou a direção em fevereiro passado, mesmo sendo membro do conselho, e abriu uma nova frente na luta pela preservação da natureza: um projeto de ecoturismo. Recentemente estiveram em sua casa estudantes americanos que, em poucos dias, observaram 70 espécies diferentes de aves.
Realmente, um paraíso. Porém, as paragens de sua Gambach natal também são idílicas. Emigrar foi uma boa decisão? "A melhor", responde Cristine, sem titubear. Além da liberdade de criar, o casal assinala a oportunidade dos filhos crescerem em contato e respeito pela natureza.
Suíça sempre presente
A casa, a família, a fazenda, os cultivos, o compromisso ambiental, uma vida intensa em que o país natal nunca deixou de estar presente.
Na Suíça vivem agora suas duas filhas e eles voltam regularmente. No Paraguai participam das atividades de seus compatriotas expatriados e Christine colaborou durante cinco anos como voluntária para que os aposentados suíços da região pudessem continuar recebendo suas pensões.
Há quase 40 anos expatriados, como veem agora seu país de origem? "Houve mudanças fortes. Não é mais a Suíça de nossas lembranças. Nossos pais trabalharam durante muitos anos com estrangeiros que tinham seus direitos e não procuravam impor sua cultura. Hoje me parece que a situação é diferente e temo pela perda de identidade suíça", comenta Christine.
O que recomendariam aos que pensam se expatriar? Que antes de tomar uma decisão definitiva viajem ao país escolhido e morem pelo menos três meses. Tem pessoas que mandam o contêiner antes, gastam as economias e descobrem logo que não era o que imaginavam.
Eles, apesar do entusiasmo juvenil, quando saíram da Suíça não levaram tudo. Seus móveis, por exemplo, ficaram muito tempo em Rüschegg e os últimos chegaram somente uns anos depois. Quer dizer, emigraram, mas não queimaram etapas.
Bruno Manser
Bruno ManserO preço pago pela simplicidadeRuedi Suter
Bruno Manser Um ambientalista na Malásia
Bruno Manser Um ambientalista na Malásia
"O forte interesse do governo da Malásia e da indústria madeireira de calar Bruno Manser está provado", esclareceu o tribunal na Basileia, no final de 2003, durante o processo movido pelo seu desaparecimento. O suíço cresceu na Basileia e amava a vida. Todavia não ao preço da ignorância, destruição e exploração. Não ao preço de uma sociedade industrial na qual havia crescido. Pois muitas vezes ela vive à crédito. Ela vive através da exploração dos povos indígenas e da natureza. Essa sociedade da abundância era contestada por ele através do seu ascetismo: sua vida era um retorno radical à simplicidade. Por isso ele recusava o estilo moderno de vida sempre que possível, seja através da inteligência, criatividade, teimosia e humor.
Manser desistiu de estudar e se tornou vaqueiro alpino e pastor. Ele passou onze anos nas montanhas. "Eu queria aprender tudo o que necessitamos para a vida diária". Ele procurou um povo de caçadores e coletores, que vivia como nos tempos primitivos, com o qual ele aplicaria tudo o que havia aprendido. Na Europa mecanizada não era possível encontrar um povo semelhante. Assim viajou em 1984 para Sarawak, um dos dois estados da Malásia situados na ilha de Bornéu. Lá corajosamente penetrou as matas para encontrar, entre os índios Penan, as 300 famílias que ainda viviam como nômades na floresta tropical.
E eles adotaram esse estrangeiro no seio da sua sociedade. Ele abandonou tudo que trazia consigo: roupas, farmácia portátil, pasta de dente e até os sapatos. Ele manteve somente os óculos, necessários devido à miopia. Então obrigou-se a uma vida descalço. No início sofreu, tinha ferimentos constantes nos pés e muitas vezes se auto operou com a faca para tirar os espinhos. Ele aprendeu a suportar as dores, pois como os índios nas florestas, é preciso aceitar as dores como uma questão de disciplina. Andar descalço se tornou um hábito. Foi como um ato de liberdade: ele, oriundo de uma sociedade civilizada, não precisava mais dos sapatos. Foi uma vitória sobre si próprio!
Um de nós
Rapidamente ganhou em consideração. Intransigente, se adaptou à vida dos Penan. Andar descalço, estar nu, passar fome, suportar diariamente a humidade, os insetos, os sanguessugas, as úlceras na pele e também a malária.
Finalmente o homem de óculos conseguia se movimentar na floresta como um índio. Ele abria com maestria trilhas através das matas com o facão, descansava na posição de cócoras dos nômades, atravessava a nado por rios caudalosos e construía na copa das árvores seu abrigo noturno.
Ele gostava da vida simples dos nômades. Era como se houvesse encontrado sua família de uma vida anterior. Ele não queria mais voltar para a Suíça e seus espaços limitados, com seus gases de escapamento, ruídos e todas as pessoas que se afastam da natureza estrangulando cada vez mais a sua biodiversidade e perseguindo o sentido da vida através da técnica, para ganhar dinheiro ou com ajuda da indústria do entretenimento. Não, ele queria ficar com essas pessoas simples e acolhedoras. Ele queria sofrer ou estar feliz com elas. Gozar das florestas doadoras de vida. E isso apesar da saudade latente, não da Suíça, mas sim das lembranças da família e todos os amigos lá deixados. Uma dor na alma, que o motivava a escrever, gravar áudios e enviá-los à casa, mas que nunca lhe forçaram a abandonar voluntariamente a sua nova família das florestas tropicais. Sim, ele tinha chegado! Em seu paraíso, como havia imaginado. Nada seria capaz de expulsá-lo de lá.
Assim foi acolhido pelos Penan como um dos seus e passou a se chamar "Laki Penan". Agora ele só queria saber da vida selvagem, da pesca com tarrafa, da caça com zarabatana e flechas envenenadas, com lança e rifle de animais como ursos, macacos, porcos-do-mato, veados e pássaros. Ele coletava frutas do mato e fazia farinha de palmito selvagem. Ele aprendeu a lingua, escrevia observações e fazia inúmeros registros de pessoas, animais e plantas. Talvez ele já previa a destruição desse grandioso mundo de arvores com suas águas transparentes e sua riqueza animal e vegetal.
Galeria de fotosAtivista ambiental
(Fotos: Bruno Manser Fund)
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Muitos suíços vivem no exterior. Graças ao Intagram descobrimos alguns deles. Como eles veem hoje à Suíça?
Cada vez mais suíços emigrando para outros países
Em 2018, o número de suíços do estrangeiro aumentou em 1,1% em relação aos números do ano precedente: hoje 760.200 vivem fora das suas fronteiras. O destino mais popular continua a ser a França, seguida pela Alemanha, Estados Unidos e Itália.
Como suíços do estrangeiro se informam sobre a sua pátria
Televisão por satélite ou através da internet; sites gratuitos ou com barreiras de pagamento dos mais importantes jornais suíços: nós perguntamos a alguns suíços do estrangeiro através do Facebook como eles se informam sobre os acontecimentos e debates na sua pátria distant.
Governo presta assistência social aos suíços no exterior
A Suíça é muito solidária com os seus cidadãos no exterior em comparação com outros países: os emigrantes ou detentores do passaporte vermelho podem até solicitar assistência social em qualquer representação diplomática estando em apuros financeiros. Existem, no entanto, alguns obstáculos.
Suíço luta pela sobrevivência dos últimos índios Penan
O fotógrafo Tomas Wüthrich documentou a vida dos Penan, uma tribo indígena que vive nas matas tropicais do Sarawak, na Malásia. Desde a caça com zarabatanas até o desmatamento provocado pela indústria madeireira: as fotos falam de um povo ameaçado. "Mas não sou um novo Bruno Manser", diz, fazendo referência a um indigenista suíço desaparecido misteriosamente na região.