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Vamos lá

Digitalização permite uma vida moderna nas montanhas

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Introdução

Dois terços da superfície da Suíça são ocupados por montanhas. Nessas regiões, a falta de empregos leva ao êxodo rumo às cidades. Porém a revolução digital seria uma solução ao problema? Visitamos pessoas que vivem e trabalham nos Alpes graças às novas tecnologias.

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As férias passadas na casa do meu tio nos Alpes, anos 1980.
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Minha família vem das montanhas suíças, mas cresci no centro de Zurique, próximo de um teatro. Mas Zurique nos anos 1980 não era muito glamourosa. As famílias evitavam passear nos parques, pois tinham medo que seus filhos pisassem em seringas infectadas com HIV.






As férias passadas na casa do meu tio nos Alpes, anos 1980.
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Todas as manhãs, antes de sair de casa, minha mãe costumava coletar nas escadas do prédio os preservativos e outros utensílios dos drogados como seringas e colheres. O consumo explícito de drogas colocou a Suíça nas manchetes internacionais e levou ao êxodo urbano. Quem podia, se mudava para o interior.
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A autora do artigo durante as férias nos Alpes, em 1985.
A autora do artigo durante as férias nos Alpes, em 1985.
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As férias nos Alpes contrastavam fortemente com a vida em Zurique. Gostávamos de ficar nesse chalé nas montanhas do cantão de Friburgo, onde meu tio trabalhava como queijeiro em 1985.

Nós fazíamos acampamentos ao ar livre. O pão era assado no forno à lenha. Passeávamos pela vastidão das montanhas e comíamos o queijo caseiro feito pelos parentes nos Alpes. Nós tomávamos banhos gelados em fontes ou lagos cristalinos e brincávamos de esconde-esconde em um vilarejo semiabandonado, sem carros e entre as ruínas das casas. Resumindo: para mim, as montanhas representavam a natureza, a vida em comunidade e a liberdade.

Mas eu também sabia que existia um lado negativo da vida nas montanhas. Enquanto minha escola e universidade ficavam poucos minutos distantes de casa, meus primos nas regiões de Puschlav e Ticino tiveram que sair bastante jovens dos seus vilarejos para ir a uma escola profissionalizante ou estudar uma língua estrangeira na universidade. Poucos deles regressaram depois.
A autora do artigo durante as férias nos Alpes, em 1985.
A autora do artigo durante as férias nos Alpes, em 1985.
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Hoje, as cidades suíças estão mais atraentes e se tornaram melhores lugares para viver. As drogas não são consumidas à céu aberto. Os parques são limpos e bastante frequentados por famílias. A qualidade de vida é elevada e a criminalidade, baixa.

Mas nos meses de inverno a neblina cobre as planícies na Suíça e a transformam em uma paisagem deprimente. Então vejo que a previsão meteorológica indica um dia ensolarado nas montanhas. Nas cidades a multidão se espreme nos bondes e ônibus. O barulho do tráfego me dá nos nervos. Nesses momentos me pergunto: por que eu não vivo nos Alpes, o lugar mais bonito da Suíça?

Como muitos suíços, também sonho em viver nas montanhas. Mas é difícil encontrar um emprego nessas regiões. Elas vivem da agricultura, turismo e da geração de energia hidroelétrica. Nenhuma dessas ocupações se aproximam da minha profissão.

Mas as tecnologias digitais estão revolucionando o mundo. Graças à internet, Skype e outros instrumentos é possível trabalhar em qualquer parte do mundo. Assim fui procurar pessoas que já estão dando provas de que, graças à digitalização e infraestrutura, é possível viver e trabalhar nas montanhas.





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Histórias de vida

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Salvos pelo 'co-working'?

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As regiões de montanha na Suíça têm grandes esperanças na digitalização. Eles investem em novas tecnologias, dentre elas desenvolvendo aplicativos para turistas, plataformas digitais e expandindo as redes de fibra ótica. Muitos vilarejos estão também abrindo os chamados "Montain Hubs", escritórios coletivos, onde os "nômades digitais" podem aludar espaços de trabalho. A ideia serve para atrair especialistas e empresas das áreas urbanas às montanhas. Uma dessas iniciativas é o "Mia Engiadina".

Escritórios coletivos como salvação para as regiões montanhosas? Eu e um videasta visitamos o escritório do Mia Engiadina, em Scuol.

O pacote oferece as seguintes vantagens: uma mesa de trabalho com todas as comodidades, conexão internet e café por 24 francos. 

Eu clico então na oferta, incluíndo também o pernoite em um hotel. Eu recebo  uma resposta por e-mail, me prometendo informações adicionais.Alguns dias depois recebo outro e-mail: "Tentamos encontrar um alojamento adequado. Como a data desejada ocorre em um período bastante movimentado, há poucas ofertas. Uma deles seria o Hotel Gabriel em Scuol, onde o preço está acima do solicitado". Em outras palavras, teríamos de gastar 140 francos por noite, o que supera o orçamento da swissinfo.ch.

O funcionário do Mia Engiadina nos recomenda: "A maneira mais fácil de encontrar alguma coisa nessa temporada procurar um apartamento de férias através do AirBnb". Ele se despede com um "Cordials salüds da Scuol" (que significa "calorosas saudações de Scuol" em reto-românico, a quarta língua nacional suíça).
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Finalmente um pequeno hotel, onde a diária de um quarto é de 80 francos. Então tomamos o trem vermelho da Companhia Ferroviária Rhaetiana e vamos às montanhas.

Entramos. O ambiente cheira a madeira. As salas são elegantes, com móveis de pinho claro, almofadas xadrez vermelhas, peles e velas espalhadas no local. É fácil de reconhecer que se trata do escritório coletivo do Engadin. Há uma sala de reuniões, cabine com telefones e uma cadeira de balanço no local.
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É um ambiente bastante tranquilo. Me lembra a biblioteca, onde costumava estudar.

Várias pessoas estão trabalhando nas mesas. Na manhã havia duas reuniões marcadas. A sensação é de que o Mia Engiadina colocou pessoas para ocupar o no escritório naquele dia. Talvez para nos dar a impressão de que o projeto funciona.

Alguns aposentados com computadores portáteis são provavelmente convidados. Ouço uma conversa telefônica. A pessoa diz que está de férias por duas semanas e da instruções por telefone aos seus funcionários.
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Por falta de espaço, o escritório coletivo deve se mudar. "Ficamos positivamente surpreendidos com o interesse", explica Chasper Cadonau, responsável pela instalação no Mia Engiadina.

Os grupos alvo do projeto "Mountain Co-Working" são turistas, proprietários de casas de veraneio e empresas que enviam grupos inteiros de funcionários para as montanhas, onde podem trabalhar juntos nos seus projetos. "Para estes há ofertas especiais como caminhadas conjuntas, degustações e outras coisas."
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O arquiteto Chasper Cadonau retornou às suas origem. Hoje conta a sua história.

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Conclusão do nosso teste: o escritório coletivo é realmente algo especial. O nosso vídeo jornalista e eu fomos produtivos. Gostaríamos de trabalhar assim: em silêncio, olhando para as montanhas.

Mesmo assim, não vamos voltar tão cedo. Temos trabalho e família nas cidades. Não podemos sair do escritório por algumas semanas. Para muitos suíços a vida decorre da mesma forma que para nós.

É por isso que projetos como o "Mountain Co-Working" só pode revitalizar as áreas montanhosas em grande escala se houver uma mudança profunda no mundo do trabalho. Ou seja, um mundo onde o funcionário pode escolher o lugar onde quer trabalhar.
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Conclusão

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A vida nas montanhas suíças oferece muitas vantagens: natureza intocada, sol, alta qualidade de vida, atividades de lazer atraentes e baixo custo de vida.

No entanto, a maioria da população na Suíça se concentra nas áreas urbanas e subúrbios. O êxodo rural ocorreu até meados da década de 1990. Hoje chega se se falar em “êxodo das montanhas”.

O efeito magnético das cidades pode ser explicado pela oferta de emprego. Mas a digitalização oferece a oportunidade de trabalhar em qualquer lugar. A Suíça oferece condições ideais: as distâncias até aos centros urbanos são curtas, boas infraestruturas inclusive nas regiões de montanhas, seja em termos de transporte (ferrovias ou rodovias), seja internet (banda larga, 4G e até 5G). O nosso teste mostra: já é possível trabalhar nas montanhas.

Faço minhas malas agora e me mudo para os Alpes?

Não é tão simples assim. Numerosas discussões com especialistas, políticos e cientistas mostraram que o mundo do trabalho ainda não está pronto.

"O teletrabalho ainda se encontra nos seus primeiros passos na Suíça. Todos falam sobre o assunto, mas poucos praticam", declara o deputado-federal Martin Candinas, que defende os interesses das populações das regiões de montanha na Suíça.

Lorenz Ramseyer, da associação Digitalenomaden.ch, conta que as empresas suíças são mais relutantes em aceitar o teletrabalho do que suas consortes estrangeiras: "A cultura da presença dos funcionários é muito arraigada aqui. As empresas temem perder o controle, especialmente daqueles que trabalham em tempo integral."

Outro obstáculo é uma peculiaridade suíça: o ceticismo em relação ao novo. Eu pessoalmente prefiro esperar para ver se o trabalho à distância se consolida com outros (outras pessoas, outras empresas) e depois seguir o exemplo.

Essa desconfiança em relação ao novo é comum na Suíça. Um exemplo: a tecnologia 5G, que permitiria as regiões de montanhas de ter uma conexão superveloz sem a necessidade de instalar cabos. A resistência ainda é considerável por parte de várias camadas da população.

Existe, portanto, o risco de a Suíça perder o bonde da digitalização. E, ao mesmo tempo, a oportunidade de evitar o êxodo das regiões de montanhas.
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Sie haben es gewagt

O documentarista Reto Caduff e a jornalista Simone Ott viveram quase duas décadas em grandes cidades nos Estados Unidos. Depois se mudaram para uma aldeia de 500 habitantes no cantão de Glarus.

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A casa está logo na entrada de Filzbach, um vilarejo localizado em um vale onde se espalha o lago de Walenstadt. A vista é espetacular no local. Lá vivem Simone Ott e Reto Caduff.

O casal passou quase vinte anos nos Estados Unidos. Primeiramente Reto viveu em Nova York. Depois conheceu Simone em Los Angeles. Na Suíça os dois procuraram um apartamento para passar alguns dias de férias. Foi quando encontraram um casa construída nos anos 1910, que chegou a servir de estúdio para um artista local e decidiram comprá-la. Pelo preço, não teriam conseguido nem comprar um apartamento de três quartos em Zurique.

Eles gostaram tanto da casa, que decidiram se mudar definitivamente para a Suíça.
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A casa de Reto Caduff e Simone Ott foi construída em 1910 para servir de estúdio a um artista local.
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 A digitalização desempenhou um papel importante na decisão. Afinal, ela possibilita trabalhar em qualquer lugar do mundo. Simone Ott se especializou em marketing online. Reto Caduff é documentarista e edita álbuns fotográficos digitais.

"Trabalho com ferramentas modernas como Skype, WhatsApp e Vimeo, o que me permite mostrar e discutir o material com os meus clientes", conta Caduff. "Não quis ter um escritório em Zurique. Trabalho em casa." De vez em quando o suíço vai à Zurique participar de reuniões, em um trajeto que lhe custa uma hora e dez minutos. Ele faz piada. "A gente levava mais tempo indo à praia quando vivíamos em Los Angeles do que sair de casa e ir até Zurique."

Caduff faz a maior parte do trabalho em casa. Em algums situações recebe os colaboradores ou parceiros de trabalho em Filzbach. "Quando você filma, tem que estar presente. Porém os preparativos podem ser feitos sem problema aqui em casa. Eu já editei filmes inteiros aqui. Ou editamos fotos na sala de estar para a publicação de um livro. É bastante agradável: você trabalha longe da agitação, mais concentrado do que na cidade, onde sai para almoçar e pode encontrar alguém e perceber depois que já são três e meia da tarde", diz Caduff.






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A internet trouxe algumas facilidades para a vida nas montanhas. "As mídias sociais e o Skype facilitam o contato com amigos nos Estados Unidos", ressalta Ott. Com o iPad, eles leem a revista "The New Yorker" e outras mídias internacionais.

"Além da leitura, as compras online são importantes. Eu posso comprar coisas em Nova Iorque, Tóquio, Los Angeles, Londres, Paris, Berlim ou qualquer outro lugar. Gosto de dizer para mim mesmo: o mundo inteiro vem a mim, nas montanhas."
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Simone Ott traz um jarro cheio de água tirada da fonte local. Depois que conversarmos ela vai passear com o cachorro. A vida nas montanhas oferece muitas vantagens. Porém eu pergunto a ele: por que mais suíços não se mudam também para as montanhas? Caduff dá uma simples resposta. "Aqui as pessoas estão muito ligadas às suas regiões", explica. "Geralmente você permanece onde nasceu. Ou se muda para Berna, Basileia ou Zurique."

Não há mobilidade como nos Estados Unidos. Na Suíça, os suíços viajam diariamente para o local de trabalho. "Não sei se teríamos nos mudado para cá se não tivéssemos vivido nos EUA. Você olha para a Suíça de forma diferente e vê as vantagens das montanhas: a paisagem intacta, longe da confusão nos espaços urbanos."

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Como muitos reto-romanos, uma minoria suíça que vive no cantão dos Grisões, o pesquisador climático Jan Sedlacek teve de se mudar para uma cidade para poder estudar. Depois trabalhou vários anos no Canadá e em Zurique. Hoje dirige seu próprio negócio em um pequeno vilarejo no vale do Engadin. Sua empresa emprega dez pessoas em Zurique.
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Christina Sedlacek coloca na mesa queijos locais, salsicha, pão, verduras e melões. Os filhos de 12, 10 e 8 anos retornam para o almoço todos os dias, assim como Jan Sedlacek. O trajeto até o local de trabalho é de apenas 60 segundos.

Ele divide o escritório, que está na casa paterna logo ao lado, com o próprio pai. Algo incomum. "A maioria do pessoal que veio morar aqui ainda viaja todos os dias ao trabalho. Apenas quatro ou cinco crianças que foram comigo à escola voltaram a viver na região do Engadina", diz Sedlacek.

Jan e Christina Sedlacek trabalharam como pesquisadores no Canadá por vários anos. Depois retornaram à Suíça com os filhos e foram viver na maior cidade do cantão de Zurique. O retorno à pátria não foi fácil: "Os invernos em Zurique são difíceis de suportar. Há menos luz, mais nevoeiro", reclama Christina. Se na Engadina o frio é mais intenso no inverno, por outro lado há mais sol", completa.

Ficar em Zurique teria sido mais fácil, do ponto de vista financeiro e organizacional. Porém a família Sedlaceks queria voltar à Engadina. A questão era saber como se manter.

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Juntamente com um amigo de Zurique, Jan fundou uma empresa que analisa e processa grandes quantidades de dados para a indústria de telecomunicações.
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Os dez empregados trabalham em Zurique. Sedlacek trabalha em Sent. A cada semana e meia - ou duas semanas - ele viaja à Zurique, onde permanece um dia para participar das reuniões. O resto é resolvido por Skype.

A infraestrutura na Engadina é considerada boa. A família Sedlaceks nem sequer precisa de um carro. Há vários comércio no vilarejo de Sent. A cidade mais próxima, Scuol, está distante apenas 15 minutos em um trajeto de ônibus. Só falta uma coisa: "Internet de fibra óptica seria ideal", diz Jan, que depende de uma boa conexão para trabalhar.

Através da análise de dados, medições e previsões, Jan calcula para os principais clientes internacionais que máquinas utilizadas poderão apresentar problemas. Sua empresa é tão especializada, que consegue competir no mercado internacional apesar do custo elevado da mão-de-obra na Suíça. Os negócios vão bem. Os lucros chegaram já em 2016, ano em que a empresa foi fundada.

Christina não levou tempo para encontrar um posto de professor de biologia em uma escola de Samedan. "Não há quase nenhuma família aqui na montanha onde a mulher não trabalhe", diz Jan. "As pessoas trabalham muito, mas sem estresse."

Os suíços trabalham mais horas do que no Canadá. Em Zurique, muitos se definem pela profissão. "Mas aqui a vida é mais relaxada do que nos centros urbanos. É como no Canadá ", afirma Sedlacek.



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Jan Sedlacek: "O vilarejo é como um grande parque. Aqui você sabe que alguém está sempre cuidando das crianças."


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Esquiar ao meio-dia e trabalhar à tarde é possível em Sent. A família Sedlacek podem esquiar até na porta de casa.

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O jornalista Martin Hoch e sua esposa Sara vêm da Basileia. Eles viajaram ao redor do mundo durante oito anos e depois retornaram à Suíça. Depois procuraram o lugar mais bonito do mundo para viver. A resposta os levrou à Surselva, um vilarejo alpino no cantão dos Grisões.
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O jornalista e blogueiro de 38 anos abriu seu próprio negócio: uma galeria de arte no vilarejo de Flims.

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Martin e Sara Hoch já viram muito do mundo. Durante oito anos viajaram. Nos países que visitaram trabalharam como instrutores de mergulho, converteram uma casa em uma pousada, dormiram em um veleiro ou até uma Kombi convertida. Regularmente retornavam à Suíça para ganhar dinheiro nas indústrias farmacêuticas. Com os bolsos cheios, retornavam à estrada.

Onde viveram, perceberam que as pessoas não viviam nos lugares mais bonitos dos seus países. Em vez de viverem à beira-mar ou no pé de uma montanha coberta de verde, preferiam viver em subúrbios cinzentos ou zonas industriais poluídas. "Muitos por falta de escolha", lamenta Hoch. Mas como suíços, disseram a si mesmos: vamos fazer diferente.
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Ao retornar se questionaram: "Para onde vamos? Qual é o melhor lugar para viver na Suíça?"

E responderam: nas montanhas, é claro!

Porém só precisavam saber: viver de que?

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Martin Hoch se tornou blogueiro viajante. Mas como essa ocupação não pagava todas suas contas, também começou a escrever como freelancer sobre temas de viagens para várias mídias na Suíça.

Ele viaja frequentemente com Nico Schaererer, um fotógrafo que conheceu durante uma viagem à América do Sul, para realizar suas reportagens Juntos, descobriram um nicho de mercado: as melhores fotografias são comercializadas como obras de arte em grande formato em uma galeria online e duas lojas, uma em Flims e a outra, em Zurique.

Martin e Nico usam diversos materiais. Eles imprimem, por exemplo, fotografias em papel de algodão com qualidade de museu ou em acrílico. Eles vendem as fotos para clientes privados ou empresas. Estes gostam das imagens em grande formato. As maiores podem medir até 14 metros.

A galeria é um sucesso. Martin Hoch recebe muitos pedidos. Sara, sua esposa, queria trabalhar como engenheira de software, mas depois mudou para o turismo. Brevemente irá começar a estudar engenharia ambiental.


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O trajeto de Flims à Zurique dura duas horas, seja de carro ou de ônibus.
O trajeto de Flims à Zurique dura duas horas, seja de carro ou de ônibus.
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Essa vida de freelance nas montanhas é possível graças à digitalização: "Eu posso produzir e enviar meus produtos de qualquer lugar", diz Hoch. Quer se trate de artigos, fotos ou o design de edições individuais da revista de turismo Transhelvetica, da qual é o editor-chefe.

Em comparação com a Basileia, onde Martin e Sara costumavam viver, o custo de vida em Laax é menor: "Pagamos menos impostos e seguro de saúde". Além disso, o consumo é menor nas montanhas. Ao contrário das cidades, não é preciso entrar em lojas ou sentar em cafés.

O vilarejo de Laax é um destino turístico conhecido na região. Por isso os aluguéis não são baratos. Os dois resolveram o problema comprando um apartamento próprio, o que reduz o custo de vida. Também se aproveitaram das taxas baixas de juros para as hipotecas. "Inicialmente tínhamos metade da renda do que no tempo em que vivíamos na Basileia. Porém ao descontar os custos, vimos que ainda tínhamos quase o mesmo", diz Hoch.

Questionados sobre as condições para trabalhar nas montanhas, Hoch responde: "Você precisa de boa infraestrutura e parceiros comprometidos em cooperar independentemente da localização. Os empregadores suíços ainda não vêem com bons olhos esse novo modelo de trabalho. "Porém é tão simples: você só precisa de um telefone e um endereço e-mail."

Uma facilidade na Suíça é que as distâncias até aos centros são curtas. "É rápido ir à Zurique. Não dá nem duas horas de carro."

Quando Martin Hoch conversa com amigos que vivem nas cidades, escuta muitas vezes críticas a sua decisão de viver tão longe. Porém ele retruca. "Você tem de se perguntar o que é mais importante: o emprego perfeito ou um ambiente no qual você se sinta bem?"

Martin e a Sara encontraram a resposta para si próprios. "A qualidade de vida nas montanhas é fantástica", reforça Martin. "Não quero sair daqui."

O trajeto de Flims à Zurique dura duas horas, seja de carro ou de ônibus.
O trajeto de Flims à Zurique dura duas horas, seja de carro ou de ônibus.
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"Passeio com o cachorro duas ou três horas por dia. Vou de trem até as trilhas e fazemos longas caminhadas", diz. Martin Hoch também gosta de frequentar as saunas dos hotéis cinco estrelas no seu vilarejo.
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"As pessoas daqui são muito calorosas, porém não temos muito em comum. Temos, sim, uma vida de expatriado no nosso próprio país. Grande parte dos meus amigos vivem na Basileia, Zurique ou fora da Suíça."
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Sandra Schneider vem da Basileia. Em 1973 passou com a família as férias em Ernen, um vilarejo no cantão Valais. Quando adulta, retornou e comprou um chalé para viver no local. Em 2017 abriu seu próprio negócio, cuja principal atividade é apoiar empresas internacionais a integrar a cobrança do imposto sobre vendas (TVA, na sigla em francês) nos seus sistemas de informática.
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Visitamos Sandra Schneider em um dia ensolarado da primavera. As cerejeiras estavam florindo. Uma leve brisa soprava nos campos floridos nos arredores de Ernen.

Nós saímos da aldeia e caminhamos até Galgenhügel (colina da forca). É foi batizada assim por ter servido de local de execução. A última sentença de morte foi dada em 1764.
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É possível à distância ver a forca de Ernen. É a única na Suíça com três colunas originais preservadas, embora sem vigas de ligação. Sandra Schneider nos guiou até o local.

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Sandra Schneider sabe que o tomilho cresce nos campos perto da forca. Durante a primavera ela colhe, seca e usa a erva como tempero de carne. Nos finais de semana frequenta um curso de cozinha e padaria. O "Bom Heinrich", por exemplo, pode ser adicionado à massa do pão, o que resulta num pão de ervas alpinas. "Isso só pode ser feito aqui nas montanhas", diz entusiasmada.

Ela também gosta de outras atividades nas montanhas como esqui e caminhadas. Como profissional autônoma tem a vantagem de trabalhar aos domingos e de poder esquiar durante a semana, quando há menos pessoas nas pistas.
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Em Ernen tudo é calmo. Só se ouve sinos de vaca, grilos e o salpicar da água da fonte.

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Sandra Schneider e o seu companheiro compraram um chalé em Ernen. Desde que ele se aposentou, os dois já passaram várias semanas seguidas nas montanhas.

Sandra montou em casa a sua própria consultoria, que aconselha outras empresas a integrar nos seus sistemas a cobrança do imposto sobre vendas (TVA, na sigla em francês).

Do ponto de vista fiscal, é mais vantajoso abrir uma empresa em Ernen do que na Basileia. Além disso, a vida no vilarejo é menos complicada, diz a suíça.

Ela já tem muitos clientes. São principalmente pessoas que conheceu no período em que trabalhava como consultora de uma grande empresa de auditoria. "Na Suíça, você gosta de contratar especialistas que já conhece, onde há confiança", explica.

A especialização absoluta provou ser um trampolim profissional. As empresas preferem terceirizar ao invés de tentar fazer tudo sozinhas. Segundo Schneider, as chances de um profissional liberal aumentam se ele é bastante especializado e conhece bem a realidade local. Em tempos de globalização, um técnico na Índia ou Singapura poderia teoricamente fazer o mesmo serviço.

Para Sandra a combinação de mobilidade e teletrabalho é um modelo para o futuro. A graças a essa flexibilidade, ela conseguiu se instalar em uma região de montanhas na Suíça. Na sua opinião, tais empregos prevalecerão a longo prazo no mercado de trabalho.
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