Introdução
Oportunidades na revolução digitalViver e trabalhar nas montanhas graças à internetAutores: Sibilla Bondolfi / Carlo Pisani / Daniel Rihs
O charme das montanhas: por que muitos suíços sonham com os Alpes? Sibilla Bondolfi
O charme das montanhas: por que muitos suíços sonham com os Alpes? Sibilla Bondolfi
Nós fazíamos acampamentos ao ar livre. O pão era assado no forno à lenha. Passeávamos pela vastidão das montanhas e comíamos o queijo caseiro feito pelos parentes nos Alpes. Nós tomávamos banhos gelados em fontes ou lagos cristalinos e brincávamos de esconde-esconde em um vilarejo semiabandonado, sem carros e entre as ruínas das casas. Resumindo: para mim, as montanhas representavam a natureza, a vida em comunidade e a liberdade.
Mas eu também sabia que existia um lado negativo da vida nas montanhas. Enquanto minha escola e universidade ficavam poucos minutos distantes de casa, meus primos nas regiões de Puschlav e Ticino tiveram que sair bastante jovens dos seus vilarejos para ir a uma escola profissionalizante ou estudar uma língua estrangeira na universidade. Poucos deles regressaram depois.
Histórias de vida
Salvos pelo 'co-working'?
Trabalhando em um "Mountain Hub"
Trabalhando em um "Mountain Hub"
Escritórios coletivos como salvação para as regiões montanhosas? Eu e um videasta visitamos o escritório do Mia Engiadina, em Scuol.
O pacote oferece as seguintes vantagens: uma mesa de trabalho com todas as comodidades, conexão internet e café por 24 francos.
Eu clico então na oferta, incluíndo também o pernoite em um hotel. Eu recebo uma resposta por e-mail, me prometendo informações adicionais.Alguns dias depois recebo outro e-mail: "Tentamos encontrar um alojamento adequado. Como a data desejada ocorre em um período bastante movimentado, há poucas ofertas. Uma deles seria o Hotel Gabriel em Scuol, onde o preço está acima do solicitado". Em outras palavras, teríamos de gastar 140 francos por noite, o que supera o orçamento da swissinfo.ch.
O funcionário do Mia Engiadina nos recomenda: "A maneira mais fácil de encontrar alguma coisa nessa temporada procurar um apartamento de férias através do AirBnb". Ele se despede com um "Cordials salüds da Scuol" (que significa "calorosas saudações de Scuol" em reto-românico, a quarta língua nacional suíça).
Conclusão
Rumo às montanhas
Rumo às montanhas
No entanto, a maioria da população na Suíça se concentra nas áreas urbanas e subúrbios. O êxodo rural ocorreu até meados da década de 1990. Hoje chega se se falar em “êxodo das montanhas”.
O efeito magnético das cidades pode ser explicado pela oferta de emprego. Mas a digitalização oferece a oportunidade de trabalhar em qualquer lugar. A Suíça oferece condições ideais: as distâncias até aos centros urbanos são curtas, boas infraestruturas inclusive nas regiões de montanhas, seja em termos de transporte (ferrovias ou rodovias), seja internet (banda larga, 4G e até 5G). O nosso teste mostra: já é possível trabalhar nas montanhas.
Faço minhas malas agora e me mudo para os Alpes?
Não é tão simples assim. Numerosas discussões com especialistas, políticos e cientistas mostraram que o mundo do trabalho ainda não está pronto.
"O teletrabalho ainda se encontra nos seus primeiros passos na Suíça. Todos falam sobre o assunto, mas poucos praticam", declara o deputado-federal Martin Candinas, que defende os interesses das populações das regiões de montanha na Suíça.
Lorenz Ramseyer, da associação Digitalenomaden.ch, conta que as empresas suíças são mais relutantes em aceitar o teletrabalho do que suas consortes estrangeiras: "A cultura da presença dos funcionários é muito arraigada aqui. As empresas temem perder o controle, especialmente daqueles que trabalham em tempo integral."
Outro obstáculo é uma peculiaridade suíça: o ceticismo em relação ao novo. Eu pessoalmente prefiro esperar para ver se o trabalho à distância se consolida com outros (outras pessoas, outras empresas) e depois seguir o exemplo.
Essa desconfiança em relação ao novo é comum na Suíça. Um exemplo: a tecnologia 5G, que permitiria as regiões de montanhas de ter uma conexão superveloz sem a necessidade de instalar cabos. A resistência ainda é considerável por parte de várias camadas da população.
Existe, portanto, o risco de a Suíça perder o bonde da digitalização. E, ao mesmo tempo, a oportunidade de evitar o êxodo das regiões de montanhas.
Sie haben es gewagt
De Los Angeles à Filzbach
Simone Ott e Reto Caduff
Simone Ott e Reto Caduff
O casal passou quase vinte anos nos Estados Unidos. Primeiramente Reto viveu em Nova York. Depois conheceu Simone em Los Angeles. Na Suíça os dois procuraram um apartamento para passar alguns dias de férias. Foi quando encontraram um casa construída nos anos 1910, que chegou a servir de estúdio para um artista local e decidiram comprá-la. Pelo preço, não teriam conseguido nem comprar um apartamento de três quartos em Zurique.
Eles gostaram tanto da casa, que decidiram se mudar definitivamente para a Suíça.
Voltar às origens graças à internet
Jan Sedlacek
Jan Sedlacek
Ele divide o escritório, que está na casa paterna logo ao lado, com o próprio pai. Algo incomum. "A maioria do pessoal que veio morar aqui ainda viaja todos os dias ao trabalho. Apenas quatro ou cinco crianças que foram comigo à escola voltaram a viver na região do Engadina", diz Sedlacek.
Jan e Christina Sedlacek trabalharam como pesquisadores no Canadá por vários anos. Depois retornaram à Suíça com os filhos e foram viver na maior cidade do cantão de Zurique. O retorno à pátria não foi fácil: "Os invernos em Zurique são difíceis de suportar. Há menos luz, mais nevoeiro", reclama Christina. Se na Engadina o frio é mais intenso no inverno, por outro lado há mais sol", completa.
Ficar em Zurique teria sido mais fácil, do ponto de vista financeiro e organizacional. Porém a família Sedlaceks queria voltar à Engadina. A questão era saber como se manter.
Mochileiros se mudam para as montanhas depois de viajar por oito anos ao redor do mundo
Martin Hoch
Martin Hoch
Onde viveram, perceberam que as pessoas não viviam nos lugares mais bonitos dos seus países. Em vez de viverem à beira-mar ou no pé de uma montanha coberta de verde, preferiam viver em subúrbios cinzentos ou zonas industriais poluídas. "Muitos por falta de escolha", lamenta Hoch. Mas como suíços, disseram a si mesmos: vamos fazer diferente.
Lazer nas montanhas
"Passeio com o cachorro duas ou três horas por dia. Vou de trem até as trilhas e fazemos longas caminhadas", diz. Martin Hoch também gosta de frequentar as saunas dos hotéis cinco estrelas no seu vilarejo.